quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Geradores.


Desde miuda que a minha relação com os meus "geradores" foi bastante atribulada. Segundo a minha mãe, "berrei" os primeiros nove meses, segundo o meu pai, Braga não tinha ruas suficientes para ele percorrer até eu adormecer. A pouco e pouco fui crescendo naquilo que deveria ser o mimo exagerado do primeiro filho que ainda por cima era uma menina loira de olhos claros. Os meus tios chamavam-me nomes adequados à minha estrutura, nomes que ainda hoje permanecem (graças a Deus um pouco alterados).

Cresci assim, até aos meus 5 anos como a menina chorona, mimada, que tinha medo da prima mais velha e que cantava "Não há estrelas no céu" ao som do violão dos tios. Aos meus quase 6 anos eles decidiram introduzir na minha vida, no meu quarto, uma boneca. Uma boneca que para mim era feia, e estranha. Chorava de verdade e roubava agora o colo da Minha mãe e o ombro do Meu pai. Com tempo, com a birra de não querer ir ver aquela que era a minha irmã ao hospital porque estava a ver os PowerRanger, com a mudança de casa e a passagem para a escola comecei a não ligar tanto às tranças que a minha mae me deixara de fazer, aos passeios que o meu pai já nao me levava a dar, às barbies que apareciam sem cabeça porque... agora era tudo partilhado com a Filipa.

Mais tarde, perto dos meus 11 anos e já com plena aceitação de que tinha uma irmã mais nova, teimosa, venenosa e com cabelo à Santo Antonio, os meus pais decidem esquecer-se dos cuidados anti-crianças e apresentam-me o meu irmão. Era tão lindo, tão pequenino, tão fragil, tão precioso que não houve duvida que aquela sim era a idade de eu ter um irmão. Com o Pedro as coisas sempre foram diferentes, além de ser um rapaz, era mto mais facil lidar com ele. Não havia nada para partilhar com ele, com a perda de atençao e falta de mimo eu sempre soube bem lidar.

Estava então na idade mais ridicula do mundo, os 13 anos. Queria-me afirmar. Já sabia o que era o periodo, já pensava ser mulher. No entanto nao percebia (nem nunca hei de perceber) o olhar frio dos meus pais. A minha mãe sempre muito organizada, arrumada, fixada nas limpezas e arrumações profundas. O meu pai sempre muito distante, muito frio, muito severo, muito duro... Com o passar dos anos achei que isso ia mudar. Afinal eu estava a crescer! O meu pai sempre teve uma mão pesada, a minha mãe sempre fez muita pressão psicologica. Lembro-me de um dia, com os meus 16 anos, em pleno inverno, ter ido a um bar e sentir vergonha de tirar a camisola de gola alta por saber que tinha os braços marcadados da ultima discussao acesa com o meu pai. Olhei para o meu namorado na altura, um rapaz de quem gostei muito tempo e com quem felizmente ainda mantenho uma boa amizade, e disse-lhe: "eu caí... ainda me doi a cabeça, vou para casa". Soube perfeitamente que ele nao tinha acreditado.

Hoje tenho quase 20 anos e a frieza e a distancia com que sou tratada dentro de casa faz-me muitas vezes cair numa dor tao funda que eu ja nem sei explicar. Ontem a minha mãe levantou-me a mão e marcou-ma no meu pulso fino. Hoje, tenho que falar com ela como se fossemos as melhores amigas do mundo porque se não ela não vai parar de me perguntar: "Que é que se passou? andas sempre de trombas. vai trabalhar que ficas já mais contente".

Até quando devo aguentar isto? Até quando me vou sentir a morar de favor em casa de alguém e a comer numa mesa onde se trocam palavras tão secas que nem com a comida se engolem mais facilmente? Até quando vou olhar para os meus pais como simples geradores?

1 comentário:

  1. Incrivel...por muitas razoes que nao vou numerar. Mas ...entendi e senti cada palavra.

    Gostei muito do blogue.

    Seguidora obviamente ;)

    beijinhos

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